NOSSA PEREGRINAÇÃO: FIRMES ATÉ O FIM INTRODUÇÃO
O tema e o propósito da carta aos Hebreus são muito importantes para que entendamos essa nova seção de ensinamentos.O autor até aqui vem falando acerca da superioridade do Senhor Jesus Cristo a um grupo de cristãos do primeiro século que estava sofrendo a tentação de retornar ao judaísmo (lição l). É esse o motivo da ênfase dada na carta à superioridade do Filho de Deus em relação à instituição judaica. Em Hebreus 3.7-4.13, encontramos uma exortação aos crentes para não retrocederem em sua peregrinação, mas continuarem firmes até o fim, considerando três aspectos temporais relacionados à palavra de Deus. Pr. E m e rso n da S ilva P ereira Texto básico Hebreus 3.7-4.13 I -
A PALAVRA DE DEUS NO PASSADO: UNI AVISO SÉRIO
(Hb 3.7-11) O primeiro aspecto temporal da palavra de Deus, que encoraja os crentes a peregrinarem firmes até o fim, é o “passado”. O autor faz um forte paralelo entre o povo de Israel do passado e os crentes. Assim como o povo de Israel foi liberto da escravidão egípcia e caminhava para uma nova terra, os crentes foram libertos da escravidão do pecado e caminham para uma nova pátria (Fp 3.20). Mas também esse paralelo destaca pontos negativos, pois a geração de adultos que deixou o Egito falhou durante a sua caminhada e, devido à sua incredulidade e desobediência, perdeu o privilégio de entrar em Canaã. Por essa razão, os crentes que leram esta carta deveriam considerar o que Deus dissera no passado como um sério aviso.
Texto devocional Salmo 95.1-11 Versículo-chave "Esforcemo-nos, pois, por entrar naquele descanso, a fim de que ninguém caia, segundo o mesmo exemplo de desobediência. Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração" (Hb 4.11-12). Alvo da lição Você entenderá que a nossa peregrinação deve ser ao lado de Cristo; firme, constante, até que cheguemos ao perfeito descanso. Leia a Bíblia diariamente SEG 1Co 10.1-13 TER Hb 3.7-19 QUA Hb4.1-13 QUI Nm 14.26-38 SEX Jr 31.31-34 SÁB 2Tm 3.14-17 DOM Mt 11.18-30 25 O autor menciona o Antigo Testamento (Nm 14.33; Dt 1.3,34-35) e especialmente o Salmo 95.7-11, que apresenta um resumo da história inglória de Israel sob a liderança de Moisés no deserto. O passado de Israel pode ser relembrado por algumas expressões do salmo: "... se ouvirdes a sua voz" (Israel não ouviu a voz de Deus), "... não endureçais o vosso coração” (Israel endureceu o seu coração) e "... não entrarão no meu descanso” (Israel não entrou no descanso de Deus). Ao olharmos ligeiramente para o texto básico de nossa lição, notamos que essas expressões são reafirmadas por outros termos-chave que o autor destaca enfaticamente: “endurecer” (Hb 3.8,15 e 4.7), “incredulidade” (Hb 3.12,19), “desobediência” (Hb 4 .1 l), “entrar” (Hb 3.11,18; 4.1,3,5,10-11), “crer” (Hb 4.3), “descanso” (Hb 4.1,4-5,8,11) e “repouso" (Hb 4.9).
A história de Israel relata escolhas e resultados, inconsequências e consequências. O autor de Hebreus não traz à tona a história apenas para ilustrar um ensinamento moral. Mas, embasando a sua argumentação no AT, confronta seus leitores com a autoridade das Escrituras. Moisés, que representava a autoridade e a voz de Deus entre os hebreus, não foi ouvido. Diferentemente, a Bíblia, a autoridade de Deus para os crentes, deve ser ouvida e obedecida. Já que a palavra de Deus é verdadeira e perfeita para todas as épocas, culturas, lugares e circunstâncias, pelo fato de ser inspirada por Deus (SI 19.1-6; M t 5.17-18; 2Tm 3.16-17; 2Pe 1.21), deve ser vista sempre como autoridade final em todos os aspectos da vida prática do crente, mesmo no século 21. A palavra de Deus, no passado, constituiu um sério aviso contra a insubordinação à Sua voz! Continuemos firmes até o fim , considerando os sérios avisos de Deus no passado!
II - A PALAVRA DE DEUS NO PRESENTE: UM APELO INSISTENTE (Hb 3.12-19) O segundo
aspecto temporal da palavra de Deus que encoraja os crentes a peregrinarem firmes até o fim é o presente. O autor da carta apela aos leitores para que considerem a História, a fim de que o seu presente seja vivido de maneira que agrade a Deus. O padrão para o crente no tempo presente é a vida de obediência. Em Hebreus 3.12-19, as tristes lições no passado dos israelitas são aplicadas à vida dos crentes no presente. Notemos as expressões “tende cuidado, irmãos” e "hoje”. A luz da História dos israelitas, os crentes são advertidos a não cultivarem a incredulidade no coração. Durante a sua peregrinação no deserto, os hebreus demonstraram incredulidade ao praticarem a idolatria (Êx 32.1-6; ICo 10.7). M as a incredulidade nesse período significou muito mais do que a idolatria. Ela correspondeu à complacência para com o pecado que eles demonstraram 26 ao abandonar a confiança em Deus (fé), deixando-se dominar pela murmuração (Nm 16.1-35; ICo 10.10), pela rebeldia (Nm21.5) epehimoralidade (Nm25.1-9; ICo 10.8).
Porisso, o autor adverte contra o “engano do pecado”, o qual resulta de um coração endurecido e gera um afastamento do Deus Vivo (Hb 3.12-13). Alembrança do pecado de Israel tem uma aplicação muito semelhante, porém, no sentido espiritual. Assim como as portas de Canaã foram fechadas no passado, alguns privilégios dos crentes também podem ser perdidos no tempo presente. Como vai a qualidade de sua vida cristã? Como os seus pensamentos, com portam entos, atitudes e decisões refletem os valores celestiais? De que maneira seus relacionamentos em família, na igreja, no trabalho e na sociedade podem confirmar que você está caminhando bem em sua jornada? O apóstolo Paulo utilizou o erro dos israelitas que peregrinaram no deserto para advertir os crentes de Corinto (IC o 10.11-12). Paulo também escreveu aos efésios: “Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados" (Ef 4.1). Continuemos firmes até o fim, considerando os apelos insistentes de Deus no presente!
III - A PALAVRA DE DEUS NO FUTURO: UMA PROMESSA FIDEDIGNA (Hb 4.1-13)
O terceiro e último aspecto temporal da palavra de Deus, que encoraja os crentes a peregrinarem firmes até o fim é o futuro. A lembrança da História de Israel não apenas implica aspectos em relação ao presente, mas também em relação ao futuro. Assim como havia expectativa para os hebreus que foram libertos por Moisés do reino do faraó, há expectativa para os salvos que foram libertos em Cristo do reino das trevas e do pecado. Em ambos os casos, essa expectativa está relacionada a uma "promessa de descanso”.
Os leitores da carta são lembrados que o futuro da geração de adultos que deixou o Egito foi frustrado (Nm 14.29-32), a fim de cuidarem para que o seu futuro também não seja frustrado. A comparação entre a peregrinação no deserto e a peregrinação cristã não deve ser encerrada com Moisés. Canaã não pode ser vista como um símbolo do céu ou de eternidade, pois, na Terra Prometida, Israel teve de enfrentar ímpios inimigos e lidar contra todo tipo de pecado e abominação. Dessa forma, a conquista de Canaã com Josué também serve de ilustração para a jornada cristã, pois a entrada na terra não correspondeu a um descanso (Hb 4.8).
Ainda na época de Isaías e de Ezequiel, Deus prometeu cumprir a promessa de descanso e repouso para Seu povo (Is 14.3; 32.18-19; Ez 34.11-15). A promessa de descanso para Israel estava além da posse de uma terra física nos dias de Moisés ou de Josué (Dt 3.18-20), incluía o estabelecimento de um relacionamento real e profundo entre Deus e Seu povo (Êx 19.6; Jr 31.31-34). 27 Seguindo o paralelo feito pelo autor da carta, a ideia de descanso para o crente também vai além do futuro, (após a morte ou pela vinda de Cristo), uma vez que ao longo da carta o Senhor Jesus Cristo é apresentado como superior à religião, à tradição, ao ritual e aos mediadores. Certamente, quando cessarem as nossas obras neste mundo, descansaremos (v.3-5), mas existe algo mais para a vida aqui, em termos de privilégios, pois lemos: “Nós,porém, que cremos, entramos no descanso" (Hb 4.3) e “esforcemo-nos, pois, por entrar naquele descanso, a fim de que ninguém caia, segundo o mesmo exemplo de desobediência” (Hb 4.1l). Segundo o texto, a finalidade do entrar no descanso é não cair em desobediência. O descanso de Deus não corresponde somente ao reino de Deus futuro, mas também ao presente! Trata-se da vida eterna que começa aqui nesta vida terrena ( Jo 17.3) e se estende por toda a eternidade.
O descanso de Deus está inserido na experiência da vida cristã. Nele, encontramos, dia a dia, até à volta de Cristo ou pelo nosso encontro com Ele através de nossa morte, os recursos divinos para desfrutarmos um relacionamento real e profundo com Deus, especialmente mediante a Sua Palavra. O nosso futuro não está relacionado apenas ao sentido escatológico, pois o dia de amanhã faz parte de cada etapa do futuro terreno.
Deus promete um recurso fidedigno para mantermos uma vida de obediência hoje, amanhã, na próxima semana, mês ou ano: a Sua Palavra "é viva, e eficaz, e mais cortante do qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hb 4.12). A felicidade do crente já começa aqui nesta vida, apesar das dificuldades; a vida bem-aventurada é uma realidade incondicional para o crente em Cristo (Mt 5.3-11). Ser discípulo de Cristo implica desfrutar de alívio, leveza e descanso (Mt 11.28-30). Viver no Espírito resulta numa vida controlada por Deus (Ef5.18) e em frutos produzidos por Ele mesmo (Gl 5.22-23). O crente não é mais escravo do pecado (Rm 6.14), porém, quando “escorrega”, encontra em Cristo perdão e purificação (ljo 1.5-2.2). Deus não permite que Seus filhos sejam tentados além do que possam resistir (1 Co 10.13). Certamente, todas essas bênçãos decorrem da vida em Cristo. Você tem desfrutado desses privilégios da salvação ou tem andado cansado, numa vida exausta de religiosidade?
CONCLUSÃO
Assim como os crentes do primeiro sé culo foram pressionados a voltar a uma vida baseada no judaísmo, os crentes de hoje também são pressionados a viver uma “vida cristã” baseada e motivada por um ativismo religioso mecânico.