quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Diante de nós a Cruz


Diante de nós a Cruz 

1 CORÍNTIOS 3

Tendo trazido diante de nós a Cruz quanto ao deixar de lado a carne no
julgamento, e o Espírito Santo quanto ao deixar de lado a sabedoria deste mundo, o
apóstolo agora retorna ao tema com o qual começou a epístola, o estado de divisão que
existia na igreja em Corinto. Mais tarde tratará com outras manifestações da carne, mas,
ao que parece, trata primeiro com esta maldade em particular, pois muito
freqüentemente desde aqueles dias, um estado de divisão na igreja a torna difícil, se não
impossível, de ser corrigida em outros abusos.
O apóstolo primeiro se refere à baixa condição da igreja comprovada pela sua
atitude carnal em relação aos servos de Deus (Versos 1-4). Para corrigir este abuso de
dons e servos dotados, o apóstolo dá instrução valiosa quanto ao serviço, ou obra, para o
Senhor (Versos 5-23), e quanto aos servos, ou obreiros, em 1 Coríntios 4.

1. A baixa condição espiritual da igreja

(Versos 1-4). Com toda a sua sabedoria e conhecimento alardeados e dons a igreja
dos Coríntios estava em uma condição espiritual tão baixa que o apóstolo foi incapaz de
ministrar a eles as coisas profundas de Deus. É verdade que eles não eram homens
naturais que não têm o Espírito (1 Co 2:14), nem eram eles homens espirituais que
andam segundo o Espírito, mas o apóstolo teve que dizer: “Não sois carnais?”. Eles
eram crentes, tendo o Espírito, mas andando segundo a carne. Quão profundamente
humilhante é descobrir que é possível ser enriquecido com toda elocução, conhecimento
e dom, e ser “farto” e “sábio em Cristo” e “forte” (1 Co 4:8-10), e contudo, na visão de
Deus, ser carnal, ou espiritualmente pouco desenvolvido, como um bebê que deixou de
crescer, e por isso incapaz de assimilar a rica e espiritual comida que Deus proveu ao
Seu povo.

O apóstolo os convence de sua carnalidade chamando atenção para as condições
que existiam entre eles. Ele diz: “há entre você invejar, contendas”. Em suas formas
práticas eles andavam como homens naturais. Ao em vez de servirem um a outro em
amor, como convinha a santos, tinham inveja um do outro e procurando igualar, ou
sobressair, um ao outro no conhecimento e no exercício dos dons, até como homens do
mundo. A inveja estava então na raiz de toda contenda entre eles. Talvez não haja
nenhum poder maior da maldade no mundo do que a inveja. A inveja levou ao primeiro
assassinato no mundo, quando Caim se levantou contra seu irmão e o matou; e a inveja
levou ao maior assassinato no mundo, quando os judeus mataram o Príncipe da vida,
pois lemos que Pilatos “sabia que por inveja eles O tinham entregado” (Mt 27:18). Não
será descoberto que a inveja foi a causa principal de todas as contendas entre o povo de
Deus? O apóstolo Pedro nos avisa que a inveja não conhece a compaixão. Ela conduz à
“malícia” e “murmuração”, e a malícia conduz ao “engano” pelo qual um homem tenta
encobrir o que ele é, e o “fingimento” pela qual um homem pretende ser o que não é (1
Pe 2:1).

Esses santos Coríntios favoreciam a este espírito de emulação se juntando a certos
professores dotados, e por seguirem e aceitarem estreitamente tudo o que eles diziam,
não necessariamente porque era a verdade segundo a palavra de Deus, mas porque era
promovido por um professor favorito. Um dizia: “Eu sou de Paulo”; o outro dizia: “Eu
sou de Apolo”. Cada um buscava defender o seu professor favorito naturalmente
conduzindo à contenda, e a contenda à divisões. Assim os homens eram seguidos, os
indivíduos eram exaltados, e as divisões aconteciam. Duas maldades se seguiram: uma
era o sectarismo, que deixava de lado a verdade da igreja, a outra o clericalismo, que
deixava de lado Cristo como a Cabeça da igreja.

2. Instrução quanto ao serviço.(Verso 5). Para corrigir este abuso dos dons, o apóstolo primeiro apresenta
algumas verdades importantes quanto ao serviço e as diferentes formas que pode tomar.
Primeiro, o apóstolo pergunta: “Pois quem é Paulo, e quem é Apolo?”. Esses
irmãos dotados, que a igreja dos Coríntios tinha estavam sendo exaltados à falsa posição
de líderes de partidos, eram, afinal de tudo, apenas “ministros” pelos quais os Coríntios
tinham crido.
Em segundo lugar, esses homens dotados mantinham a sua posição de servos, não
segundo a nomeação do homem, mas “conforme o que o Senhor deu a cada um”.
(Verso 6). Em terceiro lugar, a esses servos não tinha sido dado o mesmo serviço.
Como no campo, um planta e outro rega as plantas, mas apenas Deus pode fazer com
que as plantas cresçam, portanto, no serviço ao Senhor, Paulo pode ser usado para obter
conversões e Apolo pode ser usado para cuidar dos convertidos, mas apenas Deus pode
dar a vida e o crescimento espiritual.´

(Verso 7). Em quarto lugar, se é Deus que dá o crescimento, então os servos que
os Coríntios estavam exaltando impropriamente eram comparativamente muito
insignificantes. Sem Deus eles não eram nada e o serviço deles era inútil.
(Verso 8). Em quinto lugar, embora obras diferentes possam ser dadas aos servos
ainda assim eles “são um”. Por os constituírem líderes dos partidos a igreja dos
Coríntios os colocavam um em oposição ao outro. Mas ninguém pode fazer sem o outro.
Conquanto variados sejam os dons, como servos eles são um.
Em sexto lugar, embora um como servos, “cada um receberá o seu próprio
galardão segundo o seu trabalho”. O galardão não será segundo a posição que o homem
pode ter dado ao servo, nem segundo o que pensa o homem do seu serviço, mas
segundo a estimativa de Deus das suas obras.
(Verso 9). Em sétimo lugar, somos lembrados de que os servos são “cooperadores
de Deus”, palavras que não implicam que sejam trabalhadores juntamente com Deus,
mas que colaboram sob a direção de Deus. Eles não são rivais, como os homens
poderiam fazê-los, mas cooperadores.


Assim é o serviço dos obreiros; mas que tal os santos que são servidos? São eles
seitas meramente feitas por homens, como os Coríntios estavam formando, para serem
dominados por certos líderes dotados? A resposta de Paulo é que, ao em vez de serem
seitas, que tomam o seu caráter de certos homens dotados como Paulo e Apolo, eles
pertencem a Deus. Eles são a “lavoura de Deus” e o “edifício de Deus”. Primeiro, eles
são vistos sob a figura de um campo no qual há fruto, ou crescimento, para Deus; em
segundo lugar, são vistos como um templo no qual o Espírito de Deus vive e onde há
luz para os homens. O Senhor em Seu ensino já conectou o fruto com o campo e a luz
com a casa (Lc 8:15, 16). A verdade pela qual Paulo se opôs, e condenou as divisões
durante aqueles primeiros dias é ainda a verdade que condena as divisões da cristandade
em nossos dias. Se compreendermos que pertencemos a Deus, que somos a “lavoura de
Deus” e o “edifício de Deus”, seguramente nos recusaremos ser chamados por qualquer
nome sectário.

(Versos 10, 11). Os santos realmente pertencem a Deus. Sem embargo, os servos
de Deus têm o seu serviço especial com relação ao povo de Deus segundo a graça
especial dada por Deus. Do seu próprio serviço especial o apóstolo passa a falar, e então
da responsabilidade de outros que o seguem no serviço. Paulo tinha sido usado para pôr
o fundamento da igreja em Corinto em seu testemunho de Jesus Cristo. Ele pregou a
Cristo, com a conseqüência de que uma companhia de pessoas foi levada a crer em
Jesus. No poder e graça apostólica o fundamento tinha sido realmente posto – Cristo nas almas dos crentes. Era a responsabilidade de outros servos que viriam depois edificar
esses santos.

É importante lembrar que nesta passagem o “edifício de Deus” apresenta uma
visão muito diferente da igreja daquela que é trazida diante de nós em Mateus 16:18, 1
Pedro 2:4, 5 e Efésios 2:20, 21. Nessas passagens a igreja é vista como um edifício
contra o qual o poder de Satanás não pode prevalecer, um templo santo no qual
nenhuma corrupção pode entrar, do qual o Construtor é Cristo, e com o qual nenhum
trabalhador é mencionado. Aqui, embora a igreja seja mencionada como o edifício de
Deus, os trabalhadores são empregados.

(Verso 12). A seguir, sobre a colocação da fundação pelo apóstolo Paulo, temos a
possibilidade solene do colapso da responsabilidade daqueles que continuam
construindo sobre a fundação por edificarem com material ruim. Um homem pode
ensinar a doutrina sã, ou aquela que é inútil. Além disso, as figuras usadas, “ouro, prata
e pedras preciosas”, podem sugerir que haja diferenças no valor das doutrinas ensinadas,
assim como “madeira, feno, palha” podem sugerir que alguns erros sejam piores do que
outros.

(Verso 13). A obra de cada um será provada pelo dia da provação. O dia considera
a revelação de Cristo desde o céu em labareda de fogo (2 Ts 1:7, 8). Todas as coisas
construídas com madeira, feno e palha não suportarão o fogo do juízo. As almas podem
ser mantidas juntas durante algum tempo com a falsa doutrina, como vemos por todos
os lados na cristandade, mas tal obra não suportará o fogo.
(Verso 14). O apóstolo faz uma distinção entre três classes de obreiros. Primeiro,
ele fala do obreiro verdadeiro que faz o bom trabalho. Ele ensina a sã doutrina, pela qual
os santos são edificados. A sua obra permanece, e ele mesmo receberá um galardão.
(Verso 15). Em segundo lugar, ele fala de um obreiro verdadeiro, mas cuja obra é
má e por isso se queimou. Um construtor pode ver o seu edifício destruído pelo fogo,
embora ele mesmo possa escapar. Portanto o dia de Cristo pode comprovar que um
homem ensinou doutrinas que eram errôneas, e por isso a sua obra, com relação ao povo
de Deus, foi inútil, embora ele mesmo esteja sobre o fundamento – um verdadeiro
crente em Jesus. O tal será salvo, embora o seu trabalho seja destruído e ele perca a sua
recompensa.

(Versos 16, 17). Em terceiro lugar, o apóstolo fala de um mau trabalhador e do
mau trabalho. Somos lembrados de que a igreja de Deus, vista como um todo, é o
templo de Deus no qual o Espírito de Deus habita. Não é simplesmente que há um povo
convertido na terra, mas Deus tem a Sua casa ou templo. Devemos nos ver, não como
indivíduos isolados, mas como fazendo parte da habitação de Deus sobre terra, e a
santidade vem da casa de Deus. Assim se torna intensamente solene se alguém destrói
ou corrompe a casa de Deus. Vimos que há aqueles que edificam o povo de Deus com a
sã doutrina. Então há aqueles que apresentam visões incorretas da verdade, ou uma falsa
interpretação da palavra. Finalmente, há o caso muito pior daquele que ensina as falsas
doutrinas que destroem as verdades fundamentais de Deus e minam os fundamentos do
cristianismo. O fato de que um homem pode ensinar tais doutrinas é uma prova segura
de que ele mesmo não está no fundamento. Ele é um corrupto e será destruído assim
como a sua obra. O efeito da sua obra é destruir o templo de Deus, e Deus o destrói.
Se as doutrinas ensinadas são boas, inúteis ou destrutivas, elas serão todas
provadas. Muitas que estão à altura hoje naquele dia poderão ser consideradas inúteis
ou, o que é pior, corruptas.
(Verso 18). Essas considerações solenes conduzem à advertência do apóstolo:
“Ninguém se engane a si mesmo”. É possível, então, nos enganar de que o que está
sendo ensinado é verdadeiro, quando, de fato, é inútil. A grande fonte do engano é a
tentativa de estar bem com o mundo procurando acomodar a cristandade à sabedoria
deste mundo.

O servo que apoiará a verdade deve estar contente por se tornar tolo aos
olhos do mundo; então, de fato, ele terá a verdadeira sabedoria segundo Deus. Foi assim
com o apóstolo, de quem o mundano Festo pode dizer: “Estás louco, Paulo; as muitas
letras te fazem delirar” (At 26:24).
(Versos 19, 20). A sabedoria deste mundo diz respeito ao homem natural, e de vez
em quando pode parecer muito atraente até para o cristão, como no caso dos santos
Coríntios; sem embargo, ela é loucura para Deus. A própria sabedoria do mundo se
torna a sua anulação, pois está escrito: “Ele apanha o sábio na sua própria astúcia”. A
sabedoria deste mundo é a mera astúcia, que apanha com laço aqueles que se gloriam
nela. O Senhor sabe que os “raciocínios” do sábio são vãos.
(Versos 21-23). Como cristãos, portanto, somos advertidos contra se gloriar nos
homens. Fazer assim seria nos colocar na posição aparentemente falsa de pertencer
àqueles em que nos gloriamos. Como cristãos não pertencemos a homens, mas todas as
coisas nos pertencem no sentido de que somos colocados antes de tudo como
pertencendo a Cristo. Os Coríntios se colocavam sob certos professores como se
pertencessem a diferentes homens dotados. Não, diz o apóstolo, todos eles pertencem a
vocês. O mundo com todo o seu poder, a vida com todas as suas mudanças, a morte com
os seus terrores, até mesmo tudo o que possa acontecer no dom ou no futuro, está
colocado sob o cristão porque ele pertence a Cristo, e Cristo é de Deus. Deus está acima
de todos, Cristo é de Deus, somos de Cristo, e todas as coisas são nossas.

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