O que Paulo quis dizer? Sua posição espiritual
O primeiro parágrafo desta carta está cheio de informações
importantes. Descobrimos o autor, o estenógrafo e a atitude deles para
com Jesus Cristo. Descobrimos os destinatários, sua posição em Cristo,
onde viviam, e que esta igreja, sem dúvida, tinha uma vida espiritual e organizacional
bem desenvolvida. Descobrimos uma saudação um tanto comum, característica da
maioria das cartas escritas na cultura deste tempo, mas também descobrimos por
que esta saudação era comum e também singular, indicando um relacionamento
incomum entre autor, estenógrafo e seus destinatários.
A. O Autor (1:1)
1. O apóstolo Paulo
Paulo foi o grande apóstolo aos gentios. Sua carta aos Filipenses
é uma das treze do Novo Testamento que levam seu nome.
Originalmente Paulo fora chamado Saulo. Ele pertenceu à seita
dos fariseus e foi extremamente dedicado ao Judaísmo. Sua grande
realização, antes de se converter, foi perseguir a igreja—realização de que
teve vergonha quando se tomou membro do corpo de Cristo e dedicou a vida à
pregação do evangelho e ao serviço das pessoas que antes tentava jogar na
prisão e destruir.
Quando Paulo escreveu esta carta, encontrava-se na prisão em
Roma por causa de Cristo. Ele acabava de receber uma dádiva—uma dádiva
abundante—dos cristãos Filipenses. Eles haviam mandado um dos seus homens mais
respeitados, chamado Epafrodito, que entregou seu pacote de amor. Um dos
principais motivos de Paulo escrever esta carta foi agradecer aos Filipenses a
sua generosidade e o seu cuidado.
2. O estenógrafo
de Paulo
Quando Paulo escreveu esta carta, um homem um pouco mais
jovem, sem dúvida, estava sentado ao seu lado com a caneta na mão—um homem a
quem Paulo chegara a amar como se fosse seu próprio filho. Seu nome era
Timóteo. Ele provavelmente escrevia enquanto Paulo ditava.
Timóteo tinha no coração um lugar especial para os cristãos Filipenses,
e ocupava um lugar especial no coração deles. Ele havia ajudado a começar esta
igreja. Ele se encontrava com Paulo na segunda viagem missionária quando
chegaram a Filipos pela primeira vez. Como veremos mais tarde, o relacionamento
de Timóteo com estes cristãos era profundo. Era recomendável que Paulo
incluísse a Timóteo nesta saudação.
3. Atitude deles
para com Cristo
Quando Paulo escreveu esta carta, chamou a si mesmo e também
a Timóteo de "servos de Cristo Jesus". A palavra servo literalmente
significa "escravo". Paulo, contudo, não usou a palavra servo para
referir-se a pessoas que se encontravam em escravidão; antes, ele fazia
referência a pessoas livres. Paulo e Timóteo não serviam com um
sentimento de opressão e compulsão, mas com um senso de privilégio e dedicação.
Ambos reconheciam com profunda gratidão, que Jesus Cristo havia-se tornado servo
deles a fim de prover a vida eterna. Paulo era especialmente grato a Deus.
Afinal de contas, ele havia sido inimigo da cruz de Cristo. Mas Deus, em seu
amor, escolheu Paulo para ser um dos seus melhores servos, apesar de seu ódio
anterior aos cristãos e Aquele a quem serviam.
Paulo e Timóteo, portanto, encontraram a liberdade, não
vivendo para si mesmos, mas entregando suas vidas a Cristo como servos. Eles
verdadeiramente perderam a sua vida a fim de achá-la (Marcos 8:34-37).
B. Os Destinatários
(1:1)
Paulo dirigiu sua carta a dois grupos de cristãos. Mais
precisamente, havia apenas um grupo: todos "os santos".
Mas também enviaram uma saudação especial a um grupo menor dentro do grupo
maior: os líderes da igreja, a quem identificaram como "bispos e
diáconos".
1. 'Todos os santos"
Palavra alguma tem sido mais mal interpretada, abusada e
mal empregada do que santo—assim dentro, como fora da comunidade cristã.
Para muitos, "santo" é um tipo especial de crente. Aquele que
viveu uma vida incomum de santidade e dedicação.
Não é assim! "Santo", conforme Paulo usa a
palavra, era qualquer crente verdadeiro. De fato, todos os coríntios
foram chamados de "santos", e não houve um grupo de cristãos mais
carnais no mundo do Novo Testamento do que eles (1 Coríntios 1:12; 2 Coríntios
1:1, 2). Santo, portanto, é a pessoa "chamada" e "separada"
por Deus. A palavra refere-se à posição do homem "em Cristo Jesus ".
Assim, Paulo, logo depois dessa palavra, usa a frase "em Cristo Jesus ".
a. Sua posição espiritual— "em Cristo Jesus "
O estar "
A propósito, a frase "em Cristo Jesus ",
ou uma similar, era a predileta de Paulo. Só na carta aos Filipenses a frase
"em Cristo Jesus "
aparece oito vezes, e 41 vezes em todas as suas cartas. A frase "em
Cristo" aparece 37 vezes, e "no Senhor", 43. Assim, este
conceito aparece mais de 120 vezes nos escritos de Paulo. Para ele era uma
realidade grande e gloriosa ser cristão—estar "em Cristo Jesus ".
b. Sua posição terrenal— "em Filipos"
É verdade que Paulo escrevia a um grupo de cristãos cuja
cidadania estava no céu, mas que também viviam na terra—especificamente,
em Filipos, uma importante colônia romana da Macedônia. Foi nessa cidade que
Paulo iniciou seu ministério na Europa {veja o mapa). Ele foi para a Europa
como resultado do "chamado macedô-nio" —uma visão que teve de noite
(Atos 16:8-10). Assim, Paulo. Timóteo. Silas e provavelmente Lucas fizeram as
malas, atravessaram o mar Egeu e finalmente chegaram a Filipos.
,
Aqui
encontraram várias pessoas de culturas variadas. Levou-as a Jesus Cristo e
estabeleceu uma igreja que estava destinada a tomar-se um dos grupos mais
maduros de cristãos do primeiro século. (O relato da fundação desta igreja
encontra-se no capítulo 16 de Atos.)
2. Bispos e diáconos
Dentro do grupo maior de cristãos de Filipos (os santos)
encontrava-se um grupo menor (os líderes da igreja), a quem Paulo desejava
estender sua saudação especial. Duas observações interessantes podemos fazer
acerca das palavras que Paulo usou para descrever estes líderes.
a. Primeiro, os líderes espirituais de Filipos eram chamados
de bispos e não de anciãos, o que refletia a sua formação cultural.
Paulo usou os títulos ancião e bispo intercambiavelmente
no Novo Testamento, mas com um propósito. O título ancião era usado
principalmente nas igrejas constituídas de cristãos convertidos na cultura judaica
O título bispo era usado nas igrejas constituídas primariamente de
pessoas convertidas na cultura greco-romana O motivo subjacente é que a palavra
ancião era comum entre os judeus, e a palavra bispo era comum
entre os gregos e os romanos.
O ancião em Israel era um líder religioso e
social; o bispo da cultura paga era aquele que supervisava a colônia romana. Em
ambos os casos, as palavras foram emprestadas e receberam significado e função
distintos na comunidade cristã.
O apóstolo usou a palavra bispo, ao escrever aos Filipenses,
sem dúvida porque a igreja tinha muitos convertidos entre os gentios. Muitos
comentaristas da Bíblia também crêem que, quando Paulo, Timóteo e Silas se
dirigiram a Tessalônica, Lucas ficou em Filipos com o fim de ajudar a estabelecer
a igreja. Uma vez que Lucas era um convertido gentio, pode ser que ele tenha
levado os Filipenses a usar a palavra bispo em vez de ancião.
Os bispos de Filipos eram homens nomeados para ensinar
doutrina, pastorear os crentes Filipenses, e gerenciar a igreja, de
Deus Esses líderes eram homens suficientemente maduros para atender às
necessidades espirituais do rebanho.
b. Segundo, o fato de Paulo ter saudado os diáconos de
Filipos indica que esta igreja tinha uma vida espiritual madura e uma organização
bem desenvolvida.
No Novo Testamento, o diácono era um homem nomeado para
cuidar das necessidades materiais do corpo. Parece que eram nomeados logo que a
igreja começava a desenvolver-se, crescer e criar necessidades que não existiam
em sua infância. A primeira coisa que Paulo fazia nas novas igrejas era nomear
presbíteros ou bispos—sendo que a primeira necessidade do crente é de ensino e
de cuidado pastoral. Deste modo, vemos Paulo exortando a Tito a constituir
presbíteros em Creta—mas nada disse ele acerca da nomeação de diáconos (Tito
1:5). E evidente que a necessidade de diáconos ainda não havia surgido.
Portanto, a igreja filipense estava bem encaminhada quanto
ao crescimento e desenvolvimento. Havia bispos assim como diáconos—e Paulo
desejava saudar a todos os líderes de Filipos de uma maneira especial.
C. A Saudação (1:2)
Paulo usou duas palavras a fim de estender sua saudação
especial— "graça e paz". A palavra graça geralmente era usada entre
os gentios; a palavra paz era a saudação comum entre os judeus.
Conseqüentemente, Paulo usa ambas—novamente refletindo sua sensibilidade
cultural.
Paulo, porém, acrescenta uma dimensão divina—uma dimensão
que não se encontrava na correspondência secular da época. Sua saudação era
"da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo". Isto dá à
graça e à paz significados caracteristicamente cristãos. Paulo referia-se
ao favor imerecido de Deus de graça abundante para com a humanidade ao enviar
Jesus para ser o Salvador do mundo. Ele também se referia à paz com Deus que
todos os homens têm quando recebem a dádiva divina da vida eterna.
Assim, Paulo começou sua carta com um parágrafo breve mas
cheio de poder—apenas dois simples versículos em nossa Bíblia atual.
Esses dois versículos falam muito acerca de Paulo, de Timóteo, dos Filipenses.
dos líderes da igreja, e do profundo relacionamento que existia entre Paulo e
Timóteo e estes cristãos do Novo Testamento.
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